quinta-feira, 22 de outubro de 2009


Quando eu era menino, pensava como menino e agia como tal (e ainda ajo, as vezes). Mas muita coisa mudou desde então...

Quando olhava o céu nas noites, como ainda hoje faço, não passava por minha cabeça toda a questão da dinâmica dos astros, força gravitacional, rotação, anos e velocidade luz...

O céu era apenas um fundo negro onde tinha pequenos raios de luz que por sua vez podia ser vermelha, verde ou branca mesmo. Eu era apenas um espectador da dança das núvens que com o brilho da lua ficavam em tons de cinza, enquanto o vento soprando tirava aquelas que insistiam em cobrir aquela roda que me parecia maior que as estrelas e que me fazia lembrar da pele do rosto de um conhecido meu (de pele acneica).

Não havia em mim a ideia de que eu fazia parte dessa "dança das núvens", que eu é que estava girando no vácuo, que a lua hora cheia, hora em "D", depois em "C", era fruto do gingado do planeta azul e que as estrelas são imensuráveis e impensavelmente maiores que eu, apenas um menino...

Depois eu já não ficava "dodói". "Nossa, tu tá doente!" Aí descobri que havia muitas e incontáveis vidas que sofriam dores mil, que não tinham dinheiro pra comer, não tinham a sorte de ter uma mamãe como eu tinha (e tenho), que já havia anos que não via a tia da escola e nem seus coleguinhas.

Foi quando eu descobri o hospital e o pior, conheci a área que cuidava dos casos de câncer. Logo aprendi que câncer era o mesmo que morte e, morte era dormir para sempre, fazendo com que uns chorem pelo fato e depois esqueçam que um dia esteve lá com eles.

Foi então que eu descobri que a vida é nascer (sair da mãe) e morrer (entrar no chão), ou seja, chamamos de vida o intervalo entre o nosso nascimento e morte. Aí me disseram que a tal vida só vale a pena se tivermos amor próprio, a mamãe, os seus coleguinhas de escola, um amor diferente do da mamãe, filhos nossos, gatos, cães, passarinhos e plantas.

Aí foi quando percebi que tenho medo de não ter o "intervalo de tempo" entre minha DN e óbito, feliz.

Percebi que queria ter felicidade, amigos, livros, gosto pelo o que faria, bichinhos de estimação. Mas aí fiquei sabendo que as vezes não dá e que mesmo não dando, não se pode atrapalhar e invejar as vidas que são "legais".

Hoje, quando já não sou mais tão menino, percebo que fui feliz, mas que eu poderia ter olhado melhor o que girava ao meu redor, anotar tudo. Se eu tivesse feito isso, não tinha esquecido como era ser menino, quando podia agir com um tal...