quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O eu



Eu posso ser o meu maior mal,
ser o meu maior amigo, melhor companhia.
Posso até ser meu mais fiel amante,
ou de verdade minha mais cruel perdição,
maior engano, pior agonia.
O fato é que o problema está no eu.
O problema está no desconforto desse eu.
Não vê como os outros, não encontra lógica,
Perde tempo se lamuriando
E perguntando do azul do céu.
Sim, até disso ele desconfia!
Por que esse céu se desenrola assim?
Será erro, será mentira, onde está chão?
Parece que ele se juntou ao mar tão negro, lá longe...
Tão distante que dá tristeza, que discórdia, não há mais horizonte.
O eu não consegue assimilar bem as coisas.
Eu to quase desistindo dessa insistência,
Dessa retórica boba, dessa vida morta...
Ele se pergunta demais, não quer fazer como os outros e viver à toa...
Pára infeliz! Para sem acento agora!
Chega de perguntas, inventa uma paz, vai dormir...
Não, não! Nada de poesia.
A vida não é isso, chega de versos dissonantes,
Chega de dores cantadas em dó maior...
Ninguém vai te ler, linha boboca.
Tu tá aqui porque eu te quero escrever,
Ou até tu queres me deixar só?




sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eu ouvi que viver é melhor que sonhar.
Eu cantei que o amor é uma coisa boa.
Eu me emocionei com aquele cantar,
Mas essa canção, em vazio ecoa.

Eu busquei em tantos olhos
Procurando uma semelhança.
Corações bons não se encontram aos molhos,
E em muitos deles, nem mesmo vi esperança.

E me perguntei o que iria fazer.
Escrever besteira, olhar ou agir?
Doutra ótica tentar ver,
Ou simplesmente cantar a vida e fingir?

sábado, 11 de setembro de 2010

O pai


Aquele olhar brilhante,
Quem dera fosse alegria.
Aquelas lágrimas rolantes,
Quisera ser de boa epifania.

Mas assim ele estava era de pura tristeza.
A cútis vermelha, peito angustiado,
Mergulhados no amargo do passado,
Perderam nos dias cruéis a rigidez e a beleza.

Ele estava só.
Carinho algum pros filhos dava, tampouco recebia.
Sua dor era a maior,
Repúdio e sofreguidão era o que conhecia.

Sentou-se sobre os tornozelos.
Ninguém com ele falou.
Era o Homem Invisível,
Um cão, um troço qualquer - ele pensou.

Mas o pai não pensou que seu filho inspiraria.
Oxalá a tinta mentisse e escrevesse alegria.
Usurparia o Redator-mor
E na história do homem, acrescentava o amor.

Ignácio
O medo me envolve.
Tua ausência me maltrata.
A sensação fria que sinto,
Faz com que minhas mãos fraquejem,
Meus olhos se fechem e meus lábios se travem,
Na ânsia de acordar dessa realidade.

Sei que fui eu quem escolheu.
Fui eu quem disse a mim mesmo e escrevi à brasa na minha mente
O momento da tua ida.
Fui quem decidi esquecer que ainda existe
Um umbigo no meu ventre.
Eu quem me perdi na busca da razão,
Do conhecer a mim mesmo, do encontro com meu eu.
Hoje, rio ironicamente dessa situação.
Ironicamente, perdi o norte e nessa perda,
Perdi também tuas mãos tão amáveis,
Tua atenção, teus abraços.

Agora tenho o medo.
Ele é meu companheiro.
Acorda comigo, vou e volto e, ele aqui do meu lado.
Não é um amigo, não quero ele como tal.
Mas como a covardia permanece,
O próprio como parasita, assim se firma.
O medo dorme comigo, suga minha vida aos poucos,
Mas quero que ele se vá.

Quero tua volta.
Mas teu regresso depende da atenção que terei que em ti despertar.
Não tenho força na garganta para chamar-te,
Ou não tenho a vontade que deveria?
Mas vem, vem...
Lança fora esse presente.
Vem e lança fora a angústia, o fracasso,
Minhas lágrimas secas, meu sorriso falso.

Tu podes abrir meus olhos.
Tu podes me mostrar onde está o controle
E onde está a saída desse palco,
Desses atos, desse roteiro.
Queres que eu grite?
Não, não queres.
Não é meu costume, eu grito no silêncio.
Mas se quiseres, esperneio,
Rasgo minhas roupas,
Queimo meus poemas fracos,
Meus livros, minha retina,
Arranco minha pele...
O que eu faço?
Vem...

Ignácio

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Coração de Vidro


Uma overdose de sentimentos,
A frustração de uma alma anelante,
Um coração estraçalhado, duro e cruento,
As lágrimas secas de uma índole errante.

Sim, eu to cansado!
Cansado dessa exigência, dessa alveza.
Cansado da mentira, do meu engano, do meu estado.
Cansado da minha luta, cansado da minha franqueza.

O profeta anuncia, escreve, grita.
Eu ouço, anoto e depois esqueço.
Eu choro e desejo luz na minha mente,
Mas sem querer, meu coração endureço.

E vêm me dizer que sou uma alma branca,
Quando dentro de mim moram traças de livro,
Dentro de mim tem dor e dor em chamas.
Dentro e mim, não de carne, mas um coração de vidro.

Ignácio

_____________________________________
Não sei se tem poesia, mas ardeu!