quinta-feira, 31 de março de 2011

De repente a dor já não é tão dolorosa,
A solidão não oprime tanto, a ausência não é um fator relevante.
De repente nem me percebo como antes, com aqueles interesses, planos, sonhos...
As lágrimas já não brotam com facilidade e a sensibilidade já perdeu a força.
De repente os dias não são mais os mesmos, as pessoas não são as mesmas e o que pensava ser certo, nem importa mais e há sempre a retórica enjoada de qualificar-se como tal dona de si, a tal verdade.
De repente não se enxerga mais no lugar que sempre esteve, não se enquadra mais nas mesmas cenas desse teatro bobo que a vida se tornou, não se apega mais às histórias que sempre ouviu, àquelas canções, àquela gente...
Nada mais faz sentido, nada.
A única certeza é a da mudança, é o cansaço, é a partida que grita no peito. Um grito rasgado, um pedido ousado, trêmulo, piedoso, solicitando que se vá, que se deixe tudo que aqui tem.
E esse “tudo”, o que seria?
Se nada mais há, existe, tem?...
Apenas poeira, livros, pincéis, lápis, giz... Só isso? É isso apenas?
Desenhos feios, papéis rabiscados, latidos no quintal, grilos petulantes?
O que é isso, meu Deus?
Quem és tu, Deus meu?
Eu tenho um Deus?
Deus me tem?
Eu sou um deus?
Credo!
Sou incrédulo?
Sou fraco da cabeça? Sou o que?
Quem dizem que sou?
Sou Judas ou sou o amado?
Sou o grão de trigo inchado ou o joio já brotado, nascido, imposto?
Sei não, não!
 

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