sexta-feira, 16 de julho de 2010

Encarcerado no nada

Eu encontrei um abismo em mim. Na verdade eu não encontrei. Ele se apossou de mim naquela noite indescritível...
Perdi todos os meus sentimentos, conceitos, sensações, perspectivas, toques. Aqueles minutos foram eternos para mim e tive que me refugiar no sono, que por sua vez não queria vir.
Eu aprendi naquela noite que o nada toma forma. Eu aprendi naqueles instantes amargos o que era a inexistência e que a ausência de vida emocional, resquícios de alma e os demais corpos em mim, são o que lapidam o valor do dom da vida.
Eu amargurei aos céus, supliquei a Deus que arrancasse de mim a percepção do nada... o nada se apoderou de mim e eu me via amarrado, torturado pela notória sensação que era um animal sem presença divina, sem natureza espiritual, um verme morto e imprestável aos amigos organismos decompositores.
Foi a primeira vez que tive a impressão que saí do meu corpo denso. Mas se saí, saí sem querer... Aquele estado mental, fez-me repudiar às fragrâncias, as cores, os sabores, os toques, os desejos e sonhos futuros. Eu não entendo como percebi todo o vácuo e todo sentido da minha vida e das vidas entrelaçadas à minha, indo pelo ralo da percepção humana em instantes... Também não entendo como pude reter esse nada e passar tantos dias e dias para aqui registrá-lo...
Graças a Deus que dormi e pude remar para fora desse turbilhão sem sentido...dormi, mas nunca esqueci que sou escravo das sensações, da consciência que dependo da fé...


Ignácio

2 comentários:

  1. Excelente texto, fiquei pensando sobre essa consciência pré-sono.
    Já pensou se não tivesse dormido?
    Interessante essa sua dependência da fé, também acredito nisso.

    Um abraço!

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  2. Nossos esforços em uma busca de satisfação não valem nada quando somente Deus pode suprir nossa carência, nosso "vazio", interessante que Deus nos leva para estes momentos para então compreendermos a nossa total dependência nEle pela fé, muito bom texto.

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