sexta-feira, 20 de maio de 2011

Às línguas que falam mal da boa Língua

Eu ri muito nesses dias, mas foram risos de tristeza (a vida é muito paradoxal mesmo). Muitos se deixam levar por um mídia que segmenta, como sempre fez distinção de forma cruel, causando exclusão e promovendo-a.
Falo da falsa polêmica ao livro didático "Por uma vida melhor", distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de Jovens e Adultos (EJA) a quase 485 mil alunos em 4.236 escolas, que distingue a norma culta e o uso popular da língua portuguesa como instrumentos para o ensino e apropriação, pelos alunos, das formas sancionadas socialmente.
"Os mesmo" que "vira e mexe" emitem a retórica da participação democrática, das manifestações sociais, do respeito ao povo brasileiro, são os primeiros a chicotearem.
Ao meu ver é mais uma demonstração que a classe média se mostra arrogante e insensível às variantes linguísticas só porque aprenderam umas palavrinhas do Inglês (risos). Também tem os que foram educados há quatro ou cinco décadas atrás, onde a ir à escola era para a elite e ela não representava a maioria da população como hoje também não e sim, uma pequena parcela que por sinal é ainda dominante.
Estamos falando de EDUCAÇÃO. A escola deve usar na forma de ensino as manifestações culturais da região onde se inseriu. A forma de falar também é cultura, não? O Brasil tem quantas variantes? Seu estado, cidade e até os bairros dela têm forma específicas. Será que um livro que faz menção a estas formas deve ser demonizado assim? 
Você vai responder que são regionalismos, gírias e não fazem parte do idioma. Mas idioma é uma convenção – esta é a principal indicação dada pelos autores daquele livro, baseados nos ensinamentos de uma ciência, a linguística. Ele evolui movido pelo falar popular que rompe as amarras da gramática e faz acatar como certo aquilo que já foi considerado errado. Seu ensino não pode partir de conceitos absolutos do “certo” ou “errado”, numa realidade naturalmente mutável como é a existência de um idioma, mas do “adequado” ou “inadequado” à norma culta em vigor. Ponto final! É isso que trata a publicação! 
Acho que alguém esqueceu de tocar no assunto do "internetês" que de vez em quando é tido como o assassino do nosso bom Português. Mas isso não entra em questão aqui.
E o que esse livro faz? Traz que o aluno pode falar como se fala normalmente no seu cotidiano, mas deverá aprender e dominar (quem dera!) a norma culta, escrevendo e nas ocasiões propícias, falando, para que não se sofra "preconceito linguístico". 
Não precisa de todo esse barulho porque a questão é: a escola consegue ensinar a forma culta e respeitar as variantes linguísticas? 
Falar a forma culta é belo, mas renunciar a língua falada não é ideal. Primeiro porque a forma culta não é nossa, é da europa, de nossas raízes lusitanas e segundo, porque nosso Português não corre perigo de morte: renova-se. Esqueceu das reformas na ortografia? 
O fato é separar língua escrita e falada.
Como bem disse Manuel Bandeira, “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros/ Vinha da boca do povo, na língua errada do povo/ Língua certa do povo” (BANDEIRA, 1977, p.212).
Mas como sou leigo e apenas um usuário promíscuo da culta língua escrita (tento usá-la correntamente), prefiro celebrar a publicação que torná-la ridícula.
E você?

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