Assistindo
alguns programas na televisão, minutos atrás, não tive como não me encher de um
sentimento de incapacidade e impotência diante do fato de não podermos ou de não
estarmos condicionados a fazer algo, a reagir.
Nada fazemos
quando alguém desnorteado, bêbado e irresponsável provoca um acidente de carro.
É só uma fatalidade, como sempre e corriqueiramente acontece...
Nada quando
rios de dinheiro público (nosso dinheiro tão suado) são desviados para fins não
públicos, mas pessoais e o pior, por aqueles que pomos como nossos
representantes e a quem concedemos poder.
Nada quando
nossas florestas são invadidas por fazendeiros, madeireiros e garimpeiros,
quando o fogo as consome e nossos índios são mortos quando submetidos a vírus
do homem, do pobre homem que sob a ganância dos soberbos e ricos rumam uma
trajetória triste, muitas vezes escrava e que envergonha nosso país no seio da
terra ou em acampamentos rudimentares.
Nada quando
milhares de quilômetros de matas são ameaçados pela necessidade de energia que
o Brasil precisa para crescer. Mesmo quando pomos em risco a biodiversidade e
povos locais. O que falar de Belo Monte? Um monte de mentiras?
Nada quando
alteram as dezenas de PLs de um código florestal que não assegura continuidade
à proteção já tão imperceptível.
Nada, nada fazemos.
Nada fazemos
quando vemos propagandas pouco confiáveis revelando que a Educação deu um salto
nos últimos anos e testemunhamos o fracasso e escassez de mão de obra em nossos
postos de trabalho; quando os professores são confundidos com salteadores, até
por necessidade para ver se alguém olha e diz: “Puxa, eles merecem sim um
aumento de salário, merecem respeito!”. Mas isso só depois de confronto, de sangue. Quem vai esquecer dos últimos dias de
greve dos professores estaduais do Ceará? Poucos lembrarão ano que vem!
Nada fazemos
quando estamos em algum terminal e mesmo sob o estresse daquela aglomeração das
“latas de sardinha” (os ônibus), surge alguma mãe com uma criança pendurada nos
peitos moles sugando o que resta de leite. No máximo nos compadecemos e damos
poucos centavos, enquanto na TV e mídias em geral os governos querem criar uma
realidade boba de “está tudo bem”.
Nada fazemos
quando vemos a morte nas filas de espera nos hospitais sucateados e de
profissionais mal remunerados.
Nada fazemos
até vivenciarmos o caos e descobrimos a triste tônica desta vida: existem aqueles
que montam e aqueles que são montados.
Até em que
ponto nos deixamos montar? Até em que momento vamos fingir que está tudo calmo?
Resposta: até
o momento em que de fato formos direta e pessoalmente afetados.
Temos muito a
aprender. Muito a empreender. Mas enquanto não nos focarmos em sermos melhores
humanos, em nada obteremos êxito. Todos os esforços serão nulos.
Você vai longe.
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